A escravatura é um fenómeno multissecular. Ela já existia anteriormente ao tráfico transatlântico e sobreviveu-lhe.
Todavia, o tráfico transatlântico, aquele em que o império português principalmente se envolveu, pela sua concentração no tempo, pela sua intensidade e pela forma como “construiu” as sociedades que receberam a “carga humana” e pelo modo como desestruturou as várias sociedades onde os escravos eram capturados constituiu-se num processo histórico particular. Os números e as rotas que o configuraram são dados frios. Dão uma ideia do problema, mas não permitem perceber o alcance das consequências sociais, políticas, económicas e culturais, tanto nas sociedades visadas, como nas próprias metrópoles e, sem dúvida, a uma escala global. Desde logo, a forma como sedimentaram visões de hierarquização racial ou sociocultural que, ainda que moldadas pela história, não deixaram de nos legar as condições do nosso presente. Outras existem.